Entre todos os candidatos democratas presentes no debate promovido pela Univisión Domingo passado, o único que recebeu verdadeiro destaque foi Bill Richardson, de raízes hispanas, ao protestar contra a proibição de falar em espanhol a um público cujo primeiro idioma é o mesmo. O debate todo foi simultaneamente traduzido e as regras esclarecidas antes do início. Richardson não poderia ser a única pessoa habilitada a falar com potenciais eleitores/as em suas linguas nativas, enquanto os demais sofreram pelo que se perdeu em traduções (recomendo o texto de Halem Souza no Raç(z)ão das Letras entitulado Lost in Translation, clicando aqui). Além disso, todos disseram o mesmo: Nada.
O debate foi o primeiro da história dos EUA trasmitido em um canal hispano, demonstrando a direção que nossa história vem tomando. A Florida é um exemplo do crescimento latino, um estado de 15,982,378 habitantes sendo 2,471,730 desses de origem latina.(833,120 desses, cubanos, e a população “branca” consiste em apenas 65% do total, de acordo com o census).
Assisti a alguns dos debates passados, tanto republicanos quanto democratas, e confesso não ter visto muita diferença entre esses e os que sofria no Brasil. Aliás, citando as idéias de Chomsky, o Brasil é “a cara do papai Tio Sam.” Claro, os candidatos talvez tenham uma compostura diferente, mas entre palavras lavadas a detergente e a expressão do povo a diferença é tanta que nem parecem falar a mesma lingua dos eleitores, sejam eles hispanos ou israelenses (no meu caso ambos, filho de colombiana nascido em Israel).
Estamos atualmente na fase preliminar das eleições, em que os partidos elegem seus potenciais candidatos. Hillary Clinton é uma das fortes concorrentes à nomeação. Outro é Barack Obama. Além do “latino” Richardson, compondo o “circo de marginais” do partido Democrata, os demais possíveis candidatos são: John Edwards, Joe Biden, Dennis Kucinich, Christopher Dodd, Mike Gravel e, segundo uma pesquisa feita pelo jornal USA Today, o ainda potente Al Gore.
A senhora Clinton, se eleita, seria a primeira mulher na presidência do país. Obama, o primeiro negro. Richardson, o primeiro presidente de raízes latinas. Gravel é simpático, Gore tem um certo nome a elevá-lo, bem como Edwards, e cada qual traz sua história e ideologia, uma mais igual do que a outra. Edwards, por exemplo, segundo o apresentador do essencial talk-show da HBO, Bill Maher, “ainda não pegou impulso” e Hillary Clinton tem 39% do voto atual, 3% a menos do que nos meses passados, mas ainda liderando (de acordo com a mesma pesquisa do USA Today)..
Na Univisión o que se viu foi uma convergência de idéias, ou seja, nenhuma. Pela quase hora que consegui assistir ao programa, percebi que nenhuma pergunta foi respondida, nenhum candidato demonstra ter idéias originais, e o passado da maioria – plebiscitos referentes à imigração, à guerra no Iraque e à “caça” a Bin Laden – os condena. A tradução simultânea se perdia no volume alto do som do/a candidato/a e geralmente terminava enquanto a próxima pergunta era elaborada, em uma asintonia de romper qualquer paciência.
Quanto às respostas, simbolismo puro, abstratismo, ideais superficialmente fabricados exatamente a fins de agradar qualquer freguês. Para quem está acostumado a não pensar, os debates são perfeitos, voltamos à era do “eu prometo,” e certamente pesará mais o nome do que as idéias dos escolhidos a representar o partido.
Ainda é cedo, mas o prognóstico assusta. Bush leva consigo uma certeza – falsa? – de que o partido Republicano não tem a menor chance de se reeleger. Dizem que quem vencer as preliminares do partido Democrata vencerá as eleições de 2008. Será? Em um determinado blog li a fúria dos comentadores e suposta escritora em torno do debate histórico. Exigem que os democratas tenham “coragem de participar em um debate verdadeiro como o da Fox News,” algo que parece extraído da Zona da Imaginação de um perverso pós-lobotomia mal praticada. Logo na Fox, que fabrica mais informações do que Steven Spielberg?
A retórica é constante, e existe aqui também: Políticos não nos representam, e quem nos representa não é eleito. A senhora Clinton, por exemplo, além de favorecer a guerra do Iraque a princípio, mostrou-se uma grande vira casaca quando parou de lutar contra as companhias de medicamentos e seguros de saúde a favor de planos universais, e acabou recebendo, como vemos no documentário de Michael Moore, um certo dinheirinho de lado. Atualmente retomou sua batalha, mas vê-se que tudo faz parte de um jogo, e as poucas boas intenções se perdem em sua burocracia.
Ambos Obama e Clinton votaram a favor de um muro ao redor da fronteira do México, e quando questionados a respeito do tema, por que construir uma muralha ao longo do México e não do Canadá, fronteira usada pelos terroristas do 11 de Setembro para adentrar o país, responderam apenas que medidas de segurança precisam ser tomadas para que a reforma imigratória seja levada adiante. Nem citaram o Canadá por motivos que todos sabem, mas ninguém tem a coragem de admitir ao público, que não conhece jogatinas de relações políticas internacionais.
Como minha querida gerente Marion, que disse ter votado em Bush porque Al Gore lhe parecia arrogante, e porque na segunda vez o penteado de Kerry não a agradava, a decisão de 2008 está nas mãos de pessoas que talvez nem tenham mais interesses sociais por não pertencerem a uma sociedade, propriamente dita. Talvez, os latinos e os negros sejam os únicos verdadeiros exigentes em seus temas, mas acredito que estes também deixam-se ludibriar por simbolismos e palavras abstratas, já que como todos, sentem que podem apenas esperar, e esperar, e esperar...
Conforme respondi à autora do blog que critica a existência do debate na Univisión, o que mais me amedronta não são as idéias superficiais fabricadas pelos políticos, mas a ignorância da nação que os elege. Encerro, esperançoso, cantando com Vandré: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”
RF
Tuesday, September 11, 2007
Indecisão Gringa 2008
Essas Palavras Vos Trazem
Barack Obama,
elections 2008,
Hillary Clinton,
Roy Frenkiel,
Univision
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
8 comments:
"Sobrinho", salve, salve, paz e bem.
Uma encomenda, se te for possível atender-me, evidentemente: um artigo (1 pág de uôrdi, no máximo, para publicação no sítio do Fausto) sobre o que tais candidatos pretendem fazer - se é que pretendem... - em relação à invasão do Iraque. Têm apresentado alguma proposta? Só o que sabemos por aqui, naturalmente, é o mingau ralo que $inhá sempre serve. Queria uma opinião isenta e inteligente, daí, portanto, passar a bola pra ti. Reitero: só mesmo se der, que sei, lendo-te, que estás apertado com as costuras por aí.
Baita abraço meu, salam, shalom!
PS: o comentário excluído acima era meu mesmo. Tava cheio de errinhos de digitação (ah, essa minha mão queimada...), aí corrigi, pra evitar incompreensão.
Pirata, guenta pau que eu tento extrair algo ate amanha ok?
abraxao
RF
Sem pressa, Roy.
Baita abraço
Roy, estou contando contigo pra saber os detalhes dessa eleição pra além do "mingau ralo" ao qual se referiu o Pirata, do mesmo jeito que a Milena, no caso da eleição francesa me forneceu informações preciosas. Agora, que coisa curiosa, não? Três candidatos democratas feitos de encomenda para "atender" às "minorias". Pau na máquina que estamos aguardando. Um abraço.
Excelente artigo, Roy. O bom jornalismo agradece.
Já que está aberta a temporada de pedidos, aqui vai o meu: como é a coisa da corrupção aí no Congresso dos EUA? Tem muitas CPI's? Tem um escândalo a cada semana como por aqui? Um dia, se puderes, dá uma palinha sobre o tema.
Um abraço.
Depois de um lonnnngo período em repouso devido a cirurgia no braço, volto a visitar e ler meus blogs preferidos. Entre eles, é claro, o INDIVIDUALISMO.
Beijos, aqui do Brasil.
Muito rápido. Ou devegar, devagarinho.
Parabéns.
Post a Comment