Silêncio. Estranhos pensamentos. Lógica profusa.
Penúltima Parte
No fundo, Janaína sempre teve a razão. Toda. O equilíbrio e a justiça ao seu lado. Ao meu lado, um sentimento profundo de amor. O perdão veio em seguida. Nem tardou. Incorruptíveis processos da mente não se entendem com sentimentos, e sentimentos nada entendem. Faz parte. Faz sentido. O perdão veio em seguida
A partir do perdão, cheguei a novas inconclusões e criei novos sentimentos ambíguos. Assim parece caminhar a humanidade: em sentimentos ambíguos. De um dia para o outro, uma nova página virada delineava uma história tão distinta das antecedentes, que o susto inicial não se compara ao choque paulatino das redescobertas.
Janaína foi-se de minha casa naquela tarde, mas não se foi só. Caminhei ao seu lado. Compartilhei do mesmo barro que manchava a planta de suas sandálias. O que expirava, eu respirava. Chegando à porteira de minha antiga casa, fiz a casa minha novamente. Beijei a testa da mãe Úrsula, que vivia a simplicidade das negações, e preferiu fingir que tudo permanecia como antes de minha fuga. Preferiu fingir muito mais. Fazia de conta que eu nunca fora perturbado, que nunca invadira as noites de Santa Maria, que nunca tinha brincado de marginal.
Porém, eu sabia da verdade e estava cansado de perlustrar entre as mentiras. A não magoar a mãe Úrsula, prolongava uma simpatia que esvaecia com o passar dos minutos, apesar de tê-los contado, e eram muitos. Janaína compreendia minha angústia. Nós não podíamos mencionar o nome de Jurandir em contexto familiar, assim que nem o mencionávamos. Passamos a conversar em caminhadas curtas, com o tempo que nos permitia a privacidade, o qual passou de raro a inexistente. Nos desfizemos, aos poucos, da ternura que construímos em minha tocaia passageira.
Mas jamais nos desentendemos novamente. A sinceridade reinava. Aprendi que antes de revoluções sociais, precisamos revolucionar o próprio corpo, a própria mente. Precisamos aprender em familia. Precisamos uns dos outros, e para isso, precisamos de nós mesmos. Assim amadurecemos. Assim, exatamente assim, amadureci.
Wednesday, August 22, 2007
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3 comments:
O caminho ambíguo da humanidade é o que a diferencia das manadas.
Abraços fraternos
Caro Moita, obrigado pela presenca! So sinto desaponta-lo em discordia, quando digo que todo animal deve la ter as suas ambiguidades ;-)
abraxao
RF
"Incorruptíveis processos da mente não se entendem com sentimentos, e sentimentos nada entendem."
"...cheguei a novas inconclusões.."
Por frases assim (as quais eu queria ter escrito..) é que acho que você escreve cada vez melhor, Roy..
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