Wednesday, July 18, 2007

Para distrair da tragédia...



Em época de exames finais desse curto termo do verão em minha faculdade, resta pouco tempo para escrever, pouco tempo para ler o que não fizer parte de meu currículo e pouco tempo para me concentrar em novas idéias. Ao topo disso, soma-se a parafernalha do meu computador, que deu pau e, segundo diagnósticos precipitados, deve ter mesmo falecido para sempre. Assim, as séries que já estão adiantadas não podem ser publicadas, e confesso que até destacar notícias e postá-las no Blogoleone mostra-se tarefa árdua demais para essa e a próxima semanas. No entanto, reparei algo hoje que já havia reparado, mas mesmo assim sinto que faz sentido discutir novamente.

Se antes eu me sentia preocupado com o Brasil, atualmente devo confessar que meus resquícios de nacionalismo estão débeis, a ponto de morte. Não sinto-me brasileiro, mesmo que meu Português o seja, sinceramente. Não sinto-me judeu, nem israelense, ou colombiano, muito menos estadunidense. Não tenho mesmo uma nacionalidade com a qual me identifique, mas tendo vivido no Brasil e conhecendo-o com minhas próprias e pessoais experiências, sei que posso falar dele e exemplificar seus problemas à compreensão de problemas mundiais.

Hoje, por exemplo, apresentarei em classe o tema inspirado do artigo de Halem Souza “Quelemém” entitulado “O Pobre e a Literatura Brasileira,” que trata da escassez de escritores a relatar sobre a vida e a perspectiva do pobre em um país de metade – se não maioria – pobre ou de classe média baixa. Junto a problemas e motivos apresentados, também imprimi a lista dos 11 best-sellers de ficção em capa dura publicados no New York Times, na qual os demais alunos e alunas poderão ver que, aqui também, a sociedade é descartada na discussão de dilemas contemporâneos, e os conflitos apresentados beiram – quando não estrapolam – o absurdo. Ora, se no Brasil não se discute a perspectiva dos pobres, nos Estados Unidos não se discute a perspectiva dos seres humanos comuns, sem poderes sobrenaturais ou cargos ultra-secretos governamentais.

Mas, Halem fala de literatura em seu blog, e quando critica determinado problema, muitas vezes expande e traz ao menos alguma idéia do que significaria pensar em sua solução. Isso não ocorre com 90% dos blogs que leio, nem mesmo os que mais freqüento, nem mesmo os que eu mais gosto. Não preciso citar nomes, porque a crítica nem é das mais sérias contra quem os compõem, e sim apenas uma sugestão que talvez advenha de minha incompetência a oferecer algo melhor.

Blogs de direita criticam a esquerda e vice-versa, mas nunca compreendi exatamente a diferença entre uma ou outra perspectiva. Quando um lado se posicionou contra o aborto, o outro também. Quando parte de um lado favoreceu privatizações, o outro lado a contrariou, ambos ferrenhamente, nenhum apresentando argumentos fatalmente lógicos, ambos convictos da verdade absoluta em suas mãos (pessoalmente, sou a favor da legalização do aborto e seu subsídio social por intermédio de um sistema de saúde único funcional, e também sou contra privatizações, mas não acredito que o estado faça melhor trabalho. Todavia, tanto para pensar em um quanto para opinar sobre o outro, não tenho suficientes informações para defender quaisquer à morte). À época das eleições, lulistas eram lulistas, anti-lulistas eram anti-lulistas. Ambos “apaixonada” e “cegamente.” Uns diziam que sempre houve corrupção, outros que a corrupção é inaceitável, e ambos estão certos. O que isso tinha com a integridade e competência de cada candidato? Sentimentalismo. Apenas…

Minha sugestão é simples: Critiquem Lula, a corrupção do país, o Pan-Americano, o puxasaquismo ou negativismo da mídia, a burguesia ou a ralé, a falta de educação e de saúde, mas ao invés de apenas criticar, de apenas ressalvar o que há de completamente errado – muito – por que não sugerir alguma solução, alguma idéia de como cada escritor, cada formador de opinião em potencial, solucionaria o problema apresentado? Assim, quem sabe, ao invés de lermos comentários que apenas agradam àqueles que já pensam como vocês – nós – atrairíamos verdadeiros e concisos debates sem precisar ofender a ninguém que não o mereça. Pessoalmente, odeio ler coisas como “beirando a insanidade fanática do marxismo” ou “comunas de plantão” mesmo sem identificar-me como comunista. Bem como odeio ler “a direita demoníaca” e “a burguesia causadora de todos os problemas da humanidade,” ditos antigos, ultrapassados, absolutistas que não colam, atualmente, nem a criancinhas de dez anos de idade.

Finalizo com o slogan da campanha à qual eu também me comprometo de acordo com minha capacidade:

Trouxe o problema? Sugira uma solução!

Até a nécsti,

RF

4 comments:

Esther said...

Legal a iniciativa,Roy, facilmente exercitada nas coisas cotidianas, numa esfera menor. Já nos assuntos mais abrangentes ou de domínio público , com exceção do futebol , cada um tendo uma solução personalizada, maioridade penal, política,legalização do aborto e tantas outras, é bem difícil a prática da sugestão , criticar é muito mais fácil e aceito socialmente , além da desinformação natural - teoricamente, quem está no comando dessas ações é o especialista ...mais ou menos como uma virose intestinal, saca? sentimos os efeitos, é chato paca , limita, dá desconforto,raiva, e a solução? esperar que as coisas melhorem...rsrsr . Bj!

Roy Frenkiel said...

Cris, voce sabe que respeito a sua opiniao, mas sejamos sinceros. Cada um deve ter sua opiniao, e sugerir uma solucao nao seria tao dificil, nao importa quantas.

Esperar que melhore EH O QUE CAUSOU O ACIDENTE DA TAM AGORA.

BOA SORTE.

E da raiva sim, Cris. Dessa atitude de "esperar". Muita raiva. Uma raiva cega. Muito mais raiva do que do Lula, da Marta ou do Renan. Voces sao os unicos verdadeiros responsaveis por voces mesmos.

bjx

RF

Jens said...

Roy, o que pedes é impossível: racionalidade no debate político no Brasil. Desde a eleição do Lula, a discussão política radicalizou-se no país, potencializada pela postura oposicionista da mídia e o uso crescente da internet. Assim, vivemos um clima de GreNal (ou FlaFlu) - quem não está de um lado está do outro. E vale tudo pela vitória. Neste processo, os interesses da sociedade não têm lugar. O projeto de nação que se foda. O que interessa é garantir a vitória imediata do time para o qual se torce. Embarcamos quase todos nessa batalha ensandecida, movida a ódio pelo inimigo. A racionalidade há muito nos deixou. Detecto o mal mas não escapo dele, como bem sabes. Não há tempo para pensar, apenas para lutar...
Estou começando a ficar de saco cheio. Quero ir embora pra Pasárgada.
Um abraço.

Roy Frenkiel said...

O problema mais grave, Jens, nao eh o que acontece, eh o que voce e a Cris dizem. Esse eh o problema mais serio. Pela postura que voce diz ser inevitavel, o Brasil esta como esta. Espero estar enganado...

abrax

RF