Saturday, July 07, 2007

O Segredo de Minha Irmã

Inconscientemente, o cenário às portas da mansão de Jurandir findou em bom negócio.

Vigésima Parte

No corre-corre, ninguém mais sabia o que eu sabia. Gonzalo bravejava, mas via-se que mal ele compreendia já o que estava fazendo. Com seus olhos, indagáva-me o que viria em sequência. Era impossível estar-se alheio à agitação incontida do povo. Paulão empurrava as fileiras de gentes enroladas, psicologicamente. Os outros sumiram. Logo começaria o quebra-quebra unido ao corre-corre. O mata-mata cairia, fatalmente, como produto final.

“Gonzalo, é pra tirar todo mundo do terreno. Jurandir tem o corpo fechado.” Disse-lhe, firme.

O comandante abismou-se, mas continuei: “Por favor, Gonzalo, não é hora de discutir. Jurandir e Joelmo... Corpos fechados por hora. Nada a fazer. João não morreu à toa, rapaz. Não... E então?”

Chocado, esperava que dissesse algo mais, que complementasse. Os brados estridentes ao fundo nos ensurdeciam. Já precisávamos dos gritos para transmitir ondas sonoras de garganta a ouvido. A pausa. O silêncio breve meio ao tumulto, e Gonzalo retrucou:

“Eles querem ter, Caçá. É isso ‘então’.”

Aproximei-me do seu ouvido. De soslaio, procurei rapinas à caça de Caçá, mas não avistei nenhuma. O terreno era limpo. Jurandir precisava mesmo de mim.

“Meu acordo,” sussurrei, “era manter o corpo da família fechado... Então...” Esperei que o comandante compreendesse. Não compreendeu. “À casa do prefeito, Gonzalo. Acaba com aquela raça que não partilha sangue nenhum com ninguém dessa casa. Se não valer por nada, que valha a morte de João e toda a palhaçada que a gente se submeteu. Eu não disse nada. Depois disso acaba tudo. Dispensa essa garotada e vem falar comigo. Eu não disse nada.”

Voltei à sala de Jurandir, que me esperava com a pistola encostada à mesa de centro e um copo de whiskey à barra do mini-bar. A caravana marginal abandonava a fazenda do milionário. Sorrindo o mesmo sorriso, mostrando as mesmas veias verminosas, as mesmas glândulas asquerosas, quis apertar minha mão. Recusei.

“Agora você some da minha vista, então.” Mandou o Porco.

Não precisou dizer duas vezes.

2 comments:

Moita said...

Escritor de primeira. O seu narrativismo está ombreado ao do mestre J. Alencar. Parabéns

abraços

Jens said...

Tchãtchãtchãn! Adensa-se a trama...