Thursday, April 26, 2007

O Segredo de Minha Irmã

Décima-Primeira Parte

Janaína realmente não queria contar a que veio, mas como já se passara a meia hora de sua chegada, e como já prometera, e como já dera à minha curiosidade alguns aperitivos, não podia mais me enrolar.


“Caçá, você foi adotado…”

Pára tudo!

(Leitores e leitoras amigas mesmo sem intimidade... Ou até em intimidade, já que sabe-se lá o que a leitora usa quando lê minhas palavras... Aliás, sabe-se acolá se a leitora tem idade ou juízo para ler minhas palavras, e sabe-se onde Judas reencontrou suas botas se essa leitora tem mérito de lê-las nua... Faça-nos o favor, leitora, e ponha algo decente! Como dizia, leitores e leitoras, façam uma pausa mental, por favor, e acompanhem meu raciocínio, ou sua falta).

Eu? Adotado? Está certo que nunca cheguei a conhecer o indigente que fez da minha mãe uma prenha de pai bastardo, e se o contrário for, pois que se entenda o contrário. Mesmo sem conhecer a fonte do girino que se implantou no útero de Dona Úrsula, nunca pensei nem suspeitei, ou sequer pesadelei que fosse eu adotado. Ora, se sempre me trataram com o mesmo respeito, carinho, rigor... Ora, se sempre me consideraram, se sempre me vi abonado do amor que compõe qualquer família, e Janaína me vem com uma dessas? Pois, foi essa minha reação. Não de choque, apenas, mas de repúdio ao que ela me dizia, me contava, como um segredo. Calúnias! Por que tamanhas calúnias?

Janaína se levantou de seu acento e em uma baile sutil se aproximou ao meu corpo trêmulo de mente inconformada.

“É verdade, Caçá... Você sabe que eu não caçoaria com algo desse porte, não sabe? Pois saiba, menino. Você foi adotado pela sua vó...”

Agora era mesmo que seu diálogo se tornava um dialeto chinês, desses que poucos chineses entendem, e menos ainda falam.

“A verdade é que ela se apiedou de você, que não teria para onde ir, nem com quem. Porque eu, Caçá, eu ainda brincava de boneca. Ainda era uma dessas meninas presas à sáia da mamãe...”

Quis perguntar primeiro onde me encontraram, mas as perguntas não saíam de minha garaganta. Morriam no vão entre os dentes. Caíam em espasmos pelo fino dos meus lábios. E eu, que apenas recontava minhas memórias noturnas de tempos próximos àquele, agora confesso mal saber como continuar o conto. O segredo de Janaína era mesmo poderoso... Minha saliva, se havia, era seca. Meus olhos, esbugalhados. Meus membros, desconectados de sua matriz cerebral, movimentavam-se descoordenados.

”Tem mais, Caçá...” Dizia Janaína, enquanto eu segurava os braços da poltrona e quase desmaiava.

4 comments:

Anonymous said...

Urge que busque um profissional competente... E, aliás, que ele seja absolutamente incompetente e deixe-o escrever o que quiser nesse momento fantástico da sua criação.

Anonymous said...

Putzgrila, que bomba! Suspeito que Janaína seja a mãe e o pai o coronel manda-chuva fdp. (Eu sou assim, noveleiro, gosto de especular).
Muito bom cara, publica a continuação logo.
***
Quando li, constatei imediatamente uma estranha coincidência com o Caçá: também fui adotado, mas só descobri quando tinha 30 anos de idade. Foi uma bomba H emocional. Não, minha mãe biológica não era minha irmã (aí já seria tragédia demais). Nunca conheci e nem fiz questão de conhecer meu pai biológico. Espero que já tenha explodido nos confins do universo.
Tá, tá, não tem nada a ver, mas certas lembranças mexem com meus nervos manchados de fumo e café.
Um abraço.
***
PS: fiquei imaginando a leitora nua, diante do computador e fiquei ainda mais perturbado, se é que me entendes.

Moita said...

Roy
Continuo lá não muito bem de saude. Mas melhorando.

Belo conto.

Abraços

Caiê said...

Ui, estou em pulgas para ler o resto!!!