Monday, January 22, 2007

Mais sobre Sentidos


Agora, mesmo o mundo não fazendo o menor sentido, e mesmo que o dado sentido seja individual, quando o feito está feito, não é necessário roubar o sentido. Dado, afinal de contas, não é roubado.

Confesso que as más notícias de meus tempos atuais não se tornaram melhores, mas o dado sentido auxiliou para que me sentisse melhor perante as mesmas. Vejo que os desafios rotineiros não me tornam besta, nem me causam desmoronamentos internos desnecessários. O que em meu âmago se destrói, também se refaz, e não teria como refazer-se caso não fosse o inicial desmoronamento.

E que tudo o que eu diga não pareça tão só meu. Falo, por exemplo, de crises financeiras. Encontro-me em uma, das que não abalam a dondoca e a madame, nem assustam o playboy ou o empresário, ou o que sair de uma mistura entre uma dondoca e um empresário, uma madame e um playboy, algo próximo a 666, mas de cabeça para baixo. Nem brinco, é claro que irrita. Irrita saber que há pessoas em minha cidade que jogam no lixo o dinheiro que salvaria meu ano, em um final de semana. Mas, o texto que cá vos digito nada tem a ver com irritações, ou com a malfadada burguesia dos desperdícios. Fala sobre essas crises, comuns, normais, que nos levam a uma marginalidade que, se você pensar bem, não existe há muito.

Quando nos tornamos marginais, sentimo-nos impotentes. Sentimos, porque assim fomos educados, que precisamos não só sempre pagar as contas, nunca entrar em dívidas, satisfazer as vontades das inúmeras companhias que nos cobram por serviços que deveriam ser gratuítos, e os que não fossem gratuítos, inclusos nos impostos, arrancados de nossos bolsos sem a menor opção (Internet, TV a cabo, eletricidade básica, seguro de saúde, etc). Logo, precisamos pagar o aluguel, e não se pode atrasar o aluguel. E a comida? E a comida para os gatos? E a gasolina semanal? E o seguro do carro? E as despesas básicas para momentos esporádicos de ocasional diversão? Além de tudo, precisamos usar determinadas roupas, perfumes, dirigir determinados carros, possuir determinados produtos, e consumir em quantidade aceitável aos olhos daqueles que desejam ainda acreditar não serem marginais.

Viver custa, e dependendo de onde, caro demais para o que se ganha, caro demais para o que se precisa, e caro demais para atender aos desejos estúpidos de uma sociedade cuja marginalidade existe nas maiorias, e não às margens. Os verdadeiros ‘marginais’ vivem em fartas mansões, e esbanjam dinheiro em objetos mais caros do que a vida anual de um ser humano.

O sentido de tudo isso é individual. Mas, caso seja visto sem sentido, como o mundo é antes da chegada da mente humana, não nos ensina absolutamente nada. Ao contrário, apenas nos consome, controla e descontrola. O sentido de dificuldades econômicas em um mundo explicitamente injusto, para mim, é compreender minhas próprias forças, medi-las e, como acredito na evolução das espécies, saber que os sobreviventes não só evolúem, mas também outorgam hereditariamente sua evolução ao sangue de suas crias. O maior problema, o que mais me abatia, era pensar em minha marginalidade, pensar que enquanto preciso me redobrar para cumprir as metas mais ‘supérfluas’ (como dizia meu pai, referindo-se a água, comida, moradia e saúde), sou um cidadão de terceira classe. Depois, descobri que o sentido, quem dava, era eu.

Não podemos ser marginais enquanto a maioria de nossos vizinhos são marginais. Isso implicaria em margens largas demais a serem concebidas por nosso padrão espacial. Não podemos ser cidadãos de terceira classe quando a maior parte da humanidade vive na mesma. Caso nos esforcemos o suficiente, é possível conquistar respeito em algumas áreas seletas de nossos cotidianos. No meu caso, entre a escola e o trabalho, conquisto meu respeito. Se soubermos respeitar, conquistamos logo o respeito dos amigos, dos familiares, o singelo respeito por sermos humanos. Pode e muito bem o é, que não nos respeitem fora de casa. Mesmo assim, em essência, em realidade, na realidade que você se deve construir e assumir, você, bem como eu, é especial para mais de um alguém. Se não é, não sabe, ou AINDA não é.

Sim... Problemas financeiros abatem qualquer um. Mas, a quem os tiver, um conselho:

O mundo está em problemas financeiros. Os poucos privilegiados, jazem cada vez mais isolados. O mundo não só está em problemas financeiros, mas também geográficos e ecológicos. O mundo já tem data marcada para uma cirurgia cosmética federal, que, se não o acabar, o acabará para muita gente. E... A natureza é cega. Quem melhor puder se proteger, terá mais ‘sorte’. Mas, das forças do planeta Terra, ninguém pode se esconder. Assim, viva sua vida entendendo que problemas são sempre aceitáveis, desde que saibamos com eles lidar sem perda de equilibrio. Procure sempre crescer, procure sempre questionar, se quiser alguma mudança concreta, porque apesar de reclamar ser algo positivo de vez em quando, não muda nada, nem em sua vida, nem no mundo. Influencie, toque, ame, experimente, aprove, tolere, revolucione...

Dê, como eu tento, um sentido positivo à sua arte de viver.

RF

3 comments:

Caiê said...

Um sentido positivo, sem dúvida!
Só não estou certa de que viver seja "uma arte"... Arte implica demasiado fingimento, não? ;)
Mais um coisa para te fazer pensar... eh eh eh

Roy Frenkiel said...

hehe e ai ai, tipo, suspiro de 'paciencia' ou 'que saco'. Fingimento? Qual o fingimento?

Mais uma coisa pra me fazer pensar? C TA LOUCA? quer me matar de cerebro queimado???

Nao vejo, e mesmo, nao vejo, fora em termos de semantica, e uma semantica impratica, como viver nao seria uma arte. ;-)

bjx

RF

Caiê said...

O artista é um fingidor. :) E a vida, espero, é algo muito genuíno. ;)