Monday, August 16, 2010

Distantes

Hollywood finalmente descobriu o tema moderno das relações à distância e lança um filme sobre o assunto (Going The Distance, Nanette Burstein, Setembro de 2010). Isso talvez signifique que essa espécie de relações geralmente criticada no passado comece a ganhar espaço no cotidiano nacional. Pelas facilidades tecnológicas e pela realidade “virtual” disponível, encontrar alguém que se enquadre nas qualidades que procuramos passa a ser uma tarefa por um lado mais fácil (há mais lugares no mundo além do qual você se encontra para encontrar um romance) e por outro muito mais complexa (o leque de possibilidades aumenta, mas a distância segue a mesma).

É mais fácil do que nunca viajar ao destino do/da amado/a, há cada vez mais passagens de avião, barco, helicóptero e ônibus que se encaixem no nosso orçamento, e por causa da mesma realidade “virtual” podemos compartilhar sons e imagens ao vivo estando cada amante do lado oposto do planeta. A telefonia também melhorou bastante na última década.

Relações à distância ganham cada vez mais espaço nas realidades “reais” de nossos cotidianos. Mais e mais pessoas se rendem à arte de encontrar afinidades em escritores de blogues, em salas de bate-papo “virtuais” e em outros ambientes cibernéticos (salas de debates "virtuais" e comentários de blogues, como foi meu caso). As distâncias não diminuíram, mas encurtaram imitando a canção de Gilberto Gil (Antena Parabólica): “Antes mundo era pequeno, porque terra era grande… Hoje mundo é muito grande, porque terra é pequena.”

Não há dúvida de que quando falamos sobre relações internacionais no reino das ideias do liberalismo institucional, precisamos falar de romances internacionais também.

Afinal, além do chamado “brain drain”, quando alunos de um país em desenvolvimento estudam em um país desenvolvido e, ao conquistarem o diploma voltam para suas terras natais; além do processo migratório em todos os seus ciclos e além da inter-dependência crescente entre estados-nações, também temos a confluência de sentimentos, pensamentos, ideias e ideologias (ou ideais) casados entre duas pessoas de regiões distintas do planeta. Esse casamento no sentido figurado (ou literal) proporciona uma miscigenação cultural ainda maior. Chega até a ser comum que um brasileiro se case com uma sueca na Irlanda, ou que uma canadense encontre um francês na Colômbia e assim por diante.

As desvantagens são claras: A distância impede a intimidade maior, a convivência intrínseca com o/a amado/a, as carícias físicas que tanto fazem falta, o apoio concreto em horas de necessidade e regozijo intenso em horas de comemoração, além do dinheiro gasto em cada investida de reaproximação. As vantagens? Encontra-se alguém que há quinze anos não se encontraria, mesmo que essa pessoa esteja em outro polo do universo conhecido e fora de alcance material. Trabalha-se e conversa-se os planos muito antes da chance de concretizá-los, dando assim tempo para saber se era isso mesmo o que se queria e esperava, ou se era outra coisa. Conhece-se a pessoa em seu lado mais psicológico (espiritual, para os que preferirem) que sexual/físico em primeira instância, e a comunicação precisa beirar o perfeito se a relação promete durar.

A maior desvantagem de um relacionamento à distância passa a ser a vivência de dois lugares ao mesmo tempo, logo a falta de concentração em um único lugar. Se estou em Miami, meu coração por quatro anos esteve em Belo Horizonte sem que pudesse de fato me mudar à capital mineira, mas sem que pudesse vivenciar meu cotidiano em Miami com o devido foco.

Relacionamentos, no entanto, começam e terminam às vezes sem grandes necessidades de explicações maiores. A distância pode ser substituída por outros defeitos ou qualidades quando a relação dá-se em um único espaço físico. Não é ela que proporciona nem freia romances e amores verdadeiros. Apesar da distância (é claro, desde que o plano seja algum dia juntar os dois corpos em uma mesma cidade, no mínimo), o término não ocorre por causa dela. Pode até acrescentar às dificuldades, agravá-las, mas não causa por si só, geralmente, inícios ou fins.

Gosto da música de Alanis Morisette Out is Through na qual a cantora escreve sobre como relacionamentos tendem a ter os mesmos problemas, começar de modos similares e terminar por motivos semelhantes, e como talvez o único modo de “sair” dos problemas de um relacionamento seja “atravessá-los” e não rompê-los. Acredito que, enquanto há sentimentos e as falhas não sejam das mais graves (violência doméstica, abuso etc), trabalhar a relação seja o modo mais fácil de evitar tanto a solidão quanto decepções futuras. Mas também acredito que as pessoas mudam com o tempo. Isso é algo que a distância justamente ajuda a mascarar. A mudança às vezes acontece não enquanto estamos dormindo, mas enquanto estamos acordados em nossa própria casa assistindo televisão e nosso/a parceiro/a passando revertérios intransferíveis.

Tive o privilégio de ser namorado de uma pessoa que jamais conheceria não existisse a via cibernética, e não importa o que o futuro nos traga, já trouxe um belo passado. A moral da história para mim é que amar é ilimitado, as formas de amar e os motivos que nos fazem amar também. A isso jamais subtraímos, apenas somamos, e sempre há o que somar. Já os fins existem e precisam existir para que existam novos começos.

E você? O que pensa sobre relações à distância?

RF

4 comments:

Dani said...

Roy, adorei o tema! Assim como voce, sou fa desta tecnologia que nos faz descobrir lugares e pessoas novas, mas ao mesmo tempo vai fazendo com que aprendamos tanto sobre nos mesmos. Ja tive varios relacionamentos a distancia, que nunca vi como obstaculo para nada. Relacionamentos terminam quando tem que terminar.
Acabei me casando com alguem que conheci online, mas poderia ter sido na night, no MBA ou no trabalho -- so que ele morava em outro pais! Acho que neste caso a distancia, assim como a maturidade, contribuiram mais do que atrapalharam a nossa relacao. Forcados pela distancia fisica, em pouco temos descobrimos que nao poderiamos viver um sem o outro. O resto da historia voce ja sabe: estamos casados ha mais de tres anos e felizes aguardamos a chegada do nosso primeiro filho.
A internet tambem me trouxe amigos que jamais conheceria de outra forma e me resgatou outros tantos que o tempo havia afastado de mim.
Acho que o segredo das relacoes a distancia e o mesmo das supostamente normais: honestidade e respeito mutuo.
Boa sorte para voce tambem!
Bjs

Roy Frenkiel said...

As vezes os planos se concretizam, outras nao. Ja tive mais de um relacionamento a distancia. Meu primeiro nao comecou a distancia, mas terminou por ela. O ultimo foi todo a distancia com viagens de cada qual de acordo com as possibilidades. Mas esse realmente e um aspecto que vem ganhando mais espaco no modo de relacoes humanas. Passam a ser internacionais, e voce, Dani, e um belo exemplo disso.

Bjx

RF

Lilith said...

O namoro à distância tem uma lente de aumento gigante acoplada. Tudo fica maior pelo drama da ausência. Tudo fica maior pelo drama da esporádica presença. O amor, a saudade, a expectativa, a frustração, a dor, o ciúme, o encontro, o desencontro...
Exatamente como nos outros relacionamentos, às vezes não funciona, às vezes não é o momento, às vezes passou o momento... Mas sempre vale a pena, porque o que conta é o durante. Nem o antes, nem o depois.

Roy Frenkiel said...

Adorei o conceito. O que vale a pena e o durante...

Bjx

RF