Friday, January 22, 2010

Fim dos Dias nos Estados Unjdos

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não tem um bom início de ano. Menos para o presidente e mais para a população, o ano trouxe más notícias mesmo pouco antes do desastroso terremoto no Haiti. Na mesma Terça-Feira que as escalas sismográficas anunciaram a destruição da maioria das construções na capital haitiana, timidamente os noticiários locais anunciaram a potencial vitória de um senador republicano ao assento por décadas mantido por democratas. O último e mais reconhecido e querido a usá-lo foi justamente Ted Kennedy, em Massachussets.

Pouco tempo antes de falecer de câncer cerebral, Kennedy pediu para que seu posto fosse emergencialmente substituído para que seu voto contasse no que diz respeito à reforma no sistema de saúde. Em parte por mérito do veterano senador, Obama conseguiu que ambas as casas do Congresso passassem uma reforma efetiva. Como foram duas legislações separadas entre a Casa dos Representantes e o Senado, a primeira ainda deveria aprovar as mudanças instituídas pela segunda.

No entanto, as eleições especiais para este assento, antes da temporada eleitoral de 2010, trouxeram uma surpresa ingrata. A candidata democrata, Martha Coakley, acabou derrotada pelo republicano Scott Brown por uma série de gafes cometidas, sendo ela uma promotora pública de grande confiança no estado, mas uma péssima amadora das relações públicas. Em debates e perguntas que, caso respondidas honestamente, alienariam qualquer base das “massas”, Coakley além de sincera foi insensível, tanto politica quanto humanamente.

Este seria o sextagésimo assento democrata no Senado, o que prometeria a desnecessidade de obter sequer um voto republicano para passar qualquer emenda legislativa. De fato, com sessenta votos Obama conseguiu a mescla legislativa da reforma ao sistema de saúde, sem a ajuda de nenhum republicano. Como a Casa dos Representantes liderada por Nancy Pelosi não aprova a nova emenda do Senado sobre a mesma reforma, Pelosi diz que não terá os votos para assiná-la.

Ou seja, a reforma requereria algumas mudanças críticas antes de assiná-la e repassá-la ao Senado para selar a versão definitiva. No entanto, o Senado, agora sem uma maioria absoluta, não aprovará nova emenda. Em poucas palavras, caso Pelosi não encontre esses votos, e caso os democratas não forem fiéis aos seus constituintes e aprovarem a emenda como estiver (segundo Paul Krugman, do The New York Times, a reforma como está é muito melhor do que nada), o país não verá nada de novo no sistema de saúde para os próximos anos.

Como se não bastasse, nesta passada Quinta-Feira (dia 21 de Janeiro), a Suprema Corte dos Estados Unidos conseguiu quebrar as restrições que antes proibiam grandes ou pequenas corporações de controlar o processo eleitoral, já que não podiam endossar candidatos publicamente, e eram restritas quanto ao dinheiro que podiam doar em campanhas. Tais restrições, segundo uma “maioria” de 5 votos a 4, evaporaram, e corporações, que desde meados do século 19 já eram tidas como pessoas físicas, agora poderão controlar seus candidatos.

Quando político qualquer cismar que quer fazer algo a favor do povo estadunidense e não das corporações, estas poderão simplesmente enterrá-lo no esquecimento midiático e investir todas as suas capacidades em outros candidatos. Interesses especiais poderão não só fazer o lobby básico, que já é permitido, mas também financiar seja lá quem quiserem. O próximo presidente dos Estados Unidos poderá ser, a menos que algo seja feito imediatamente, “um oferecimento de WalMart”, ou qualquer outra gigante multi-nacional.

A lei, ridicularizada pela mídia de esquerda nos Estados Unidos, ameaça a liberdade de expressão na “intenção” de protegê-la. Afinal, como corporações são pessoas físicas, seu direito de livre expressão não pode ser ameaçado. Ao menos esta é a lógica por trás do juízo. E quando corporações se sentirem ameaçadas por algum jornalista ou crítico do “status quo”, seja ele/ela democrata ou republicano, poderão eleger senadores, representantes, prefeitos, governadores e, enfim, legisladores a limitar o poder de expressão de seus críticos.

Seja como for, parece que o país de Sam está cada vez mais liquido, cada vez mais esguio, escorrendo pelo ralo do banheiro do mundo, até que alguém não o enxugue e jogue tudo pelo vaso sanitário de uma vez. Até agora Obama mostra-se pequeno frente à oposição, e as massas mostram-se cada dia mais estúpidas.

O futuro nunca foi tão incerto para o presidente e para todo o país. Carpe diem, porque logo mais, logo menos, poucos dias restarão.

RF

3 comments:

Anonymous said...

Camarada, fiquei abismado com essa lei que você mencionou a respeito da participação (explícita) das corporações no processo eleitoral.

Acredito que, logicamente, as corporações atuam, com força, na eleição de candidatos de seu interesse (e que defendam seus intere$$e$); isso ocorre no mundo inteiro.

Mas essa lei aprovada na Suprema Corte é um exemplo de que a política institucional está sendo enterrada.

Como você bem escreveu, é o dim dos dias!

Marcelo F. Carvalho said...

Roy, jamais entendi como o povo norte-americano adota a passividade diante de um sistema de saúde (pago) tão absurdo.

Roy Frenkiel said...

Em primeiro lugar, gostaria só de mencionar a errata, foram 5-4 votos, não 5-3 como escrito no primeiro texto.

Pois é, Halem, é como o comentarista progressista-liberal Keith Olbermann disse, antes “você podia comprar alguns políticos algumas vezes, ou todos os políticos por algum tempo, mas agora você pode comprar todos os políticos, todas as vezes.”

Marcelo, ainda vou escrever um pouco sobre esse tema tentando talvez explicar o modo de vida e mentalidade do pessoal nos Estados Unidos. Antes de mais nada só gostaria de dizer que é muito mais fácil observar a passividade alheia, mesmo que essa mesma passividade corroi a situação social brasileira, colombiana, haitiana, dominicana, puerto-riquenha, israelense, iraquiana e nem caetera. Ou seja, quando estamos de fora percebemos a passividade da população, ou em situações menos coletivas com maior facilidade, mas de fato ela existe em todas as sociedades, e o importante é percebê-la e entendê-la de dentro para fora.

Abrax pros dois,

RF