Friday, October 02, 2009

E mais sobre a globalidade do Brasil

Apertem os cintos, porque o texto é brabo.

Primeiro ítem em voga:
A importância de Honduras e do papel brasileiro

O interessante é que, não importa qual das teorias sigamos, a importância de Honduras, em si, jamais é descartada. Como veremos brevemente adiante, nem mesmo os neo-realistas com suas teorias de jogos de poder descartam o papel de estados mais fracos, muito menos o papel de estados mais fortes entre os mais fracos.

Segundo Kenneth Waltz, há duas maneiras de evitar conflitos militares, ou ao menos postergá-los. A primeira é pertencer a um grupo de países que dançam com as hegemonias. A segunda é pertencer ao grupo que se opõe à hegemonia. Pela primeira, o estado que se associa a hegemonias pode até ficar no seu canto, não se mexer muito por si (externamente), mas ainda precisa fazer por si domesticamente o máximo possível. Pela segunda, nenhum país que quer segurança no grupo de opositores pode mesmo “ficar sossegado” em seu cantinho do globo. Vide a Coreia do Norte, que mesmo isolada do resto do mundo precisa latir para não ser prontamente atacada pelas hegemonias globais.

O Brasil, atualmente, dança com hegemonias. Ficando “quietinho” não assusta nem incomoda ninguém. O problema é que nenhuma nação tem mais recursos naturais e uma indústria avançada o suficiente como o Brasil na América Latina, e em grande parte, no resto do Sul Global (países em desenvolvimento). Isso naturalmente atrai a atenção dos países que se contra-balançam às hegemonias, e desperta o interesse das hegemonias e seus aliados.

A analogia que uso é simples e tosca: O Brasil não tem escolha. Como um escravo livre que acaba de comprar sua primeira propriedade, pode seguir recebendo visitas importantes com o comportamento de escravos, ou pode evoluir e passar a recebê-las como gente livre. A implicação é simples. Se o Brasil não se comporta como gente livre, será seguidamente estuprado, violado, roubado e saqueado não só por seus viscondes e barões, mas também por viscondes e barões alheios.

Assumindo a responsabilidade, apesar de atrair mais atenção, agora atrai uma atenção mais protetora do próprio território: Sim, nosso quintal é rico e nosso povo é pobre, mas é nosso quintal. E nós nos sentamos na mesa de pernas e boca fechadas na hora de mastigar, e nós podemos exercer a função de proprietários na comunidade, e nós podemos dar asilo a alguns pobres necessitados. E, melhor do que isso, agora sabemos que nosso povo precisa enriquecer como o quintal.


Resultado: Aumentam as visitas e diminuem os estupros e saqueamentos. Todo país tem o dever de atuar internacionalmente de acordo com suas obrigações. A responsabilidade aumenta a complexidade dos problemas. A negligência causa a destruição da infra-estrutura internacional de um país, e os riscos de um país circulando o planeta “como uma folha ao vento” são incalculáveis.

A importância do Brasil como um país que policia e contribui em seu terreno aumenta muito independentemente da postura teórica assumida. Seja qual for a realidade por trás do teatro internacional, o Brasil passa a ser visto como defensor da democracia, e atua conforme a diplomacia internacional dita. Nesse caso, não só não é relegado ao esgoto do planeta, como compra ações na casa da Dinda das hegemonias.

Segundo ítem em voga:
Olimpíadas no RJ?

Quando postar o texto a decisão já estará dada. Sendo a cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 ou não, o Rio de Janeiro, domesticamente, não é a melhor cidade para a tarefa. A corrupção brasileira é, desafortunada e instrinsecamente, institucionalizada. Políticos ficarão muito mais gordos com os super-faturamentos absurdos.

Cidades como Fortaleza, Natal e Salvador fariam mais sentido em nível doméstico. A melhora na infra-estrutura dessas cidades, e o fato de que os jogos colocariam-nas no mapa internacionalmente, poderia, potencialmente, “mudar” a cara do Brasil.

Outro grande problema de sediar Olimpíadas no Brasil é, como diz Juca Kfouri em coluna ao UOL, a “falta de política esportiva” no país. Esse, aliás, no contexto do Comitê Olímpico Internacional, é o ponto principal à rejeição da cidade maravilhosa, ou qualquer outra cidade brasileira.

Contudo, o Brasil está crescendo e, em grande parte, porque outros países e suas importâncias estão diminuindo. Isso significa, segundo Charles F. Doran, por exemplo, que o país em si não tem escolha. Está sendo “empurrado” à posição de hegemonia, e a cada ano que passa esse processo é mais rápido e contundente. Não me espantaria se chegássemos à conclusão de que Stephen Zweig estava errado, e o Brasil deixou de ser o país do futuro eterno e passou a ser o país do presente. Finalmente...

Nesse sentido, há duas frontes que o estado enfrenta em direção ao desenvolvimento:

1 – A interna. O Brasil precisa rechear o crescimento, se não estoura. Os níveis de analfabetismo, mortalidade infantil, desemprego, ruralismo básico, criminalidade, coronelismo, corrupção e escassez infra-estrutural precisam começar a decair dramaticamente, ou as fronteiras largas nada mais apaziguarão a inevitável destruição brasileira.

2 – A externa. Já crescendo apesar de si próprio, o Brasil não pode fingir que a conversa não é com ele. O locutor se irrita se ignorado. O desafiado ataca se não teme o desafiador. O dono do clube multa o membro que não participa da manutenção do mesmo. Sendo que o Brasil está sendo “empurrado”, é melhor que comece a correr.

Analogia: Como um pão, a terra tupiniquim passa a fermentar e expandir pelo calor do forno, um calor externo. Caso não for recheado, ou sua consistência estiver comprometida por falta de farinha ou água, o fermento estoura. Caso o calor seja extremo e ninguém tirar o pão do forno, o pão queima. Retirando cedo demais, o pão murcha.

Portanto, apesar de todos os problemas precisamos saber distinguir entre relações domésticas e internacionais. Uma complementa e influencia a outra, mas ainda assim são duas frontes distintas, e seria ilógico dizer que melhorar a situação em uma delas seria piorar a situação na outra.

Portanto, meu voto é pelo Rio de Janeiro.

(Chicago fora, RJ e Madrid ainda em jogo. Falta pouco...)



RF

2 comments:

Jens said...

Excelente análise, camarada Roy. As analogias, especialmente, ajudaram a iluminar o teu raciocínio. Congratulações, pelo texto claro, lúcido e limpo.
No mais, deu RJ na cabeça. Pra cima com a viga, Brasil!

Um abraço.

Dani said...

Boa a análise, Roy. Concordo com os problemas da infraestrutura e corrupção e assim como você, espero que o Brasil alcance o lugar de destaque que lhe cabe. O trabalho maior começa agora e tem que ser encarado com seriedade. Mas acho que os Jogos tinham que ser no Rio mesmo, cidade que apesar de tantos problemas, é e será sempre cartão postal do Brasil, em suas belezas e mazelas. O Nordeste é lindo mas, apesar dos grandes avanços recentes, a infraestrutura e os serviços ainda são muito deficientes.
Como brasileira e carioca não tenho como não estar feliz!