Saturday, June 14, 2008

There Goes My Hero - Texto ao Dia dos Pais (Nos EUA)

Planejei mudar o tema central de meu blog, ou melhor, centralizar-me no único tema das eleições ao invés de escolher assunto a esmo, porque quero pela primeira vez "fazer parte" de algo maior do que eu, de uma sociedade, ser aliado ao país que me hospeda e não correr contra a maré e o mundo. Ainda acredito que isso não seja conformismo. Meus maiores ídolos pertenceram ao “main stream” marginal nas sociedades que os acolhiam.

Mais do que isso, estudando jornalismo cada dia procuro minha afinidade ao desenvolvimento da carreira de meu futuro, e encontro na política, repentinamente, um campo vasto e delicioso a se explorar. Regozijo quando leio, ouço nas rádios ou assisto em noticiários tudo que diz respeito a esse tema. E acaba sendo o tema que mais me interessou desde pequeno sem que conseguisse atar a noção de uma sociedade aos atuais padrões políticos.

Para melhor escrever sobre todos os aspectos que aqui vejo reportados em suma, assisto dois principais canais voltados à política nos Estados Unidos diariamente. Todas as manhãs assisto a MSNBC e a CNN, mas majoritariamente a primeira há algum tempo, por uma criada preferência, facilmente detectada pela maior menção de seus comentaristas em meus textos. À tarde, novamente, são os programas da CNBC e MSNBC que mais exploro, porque refletem opiniões baseadas em mais profundos fatos do que sua rival. A CNN é mais superficial em suas matérias, e a NBC ganhou fama por ser a primeira a declarar a importância do estado da Flórida em 2000, na disputa presidencial entre George Bush e Al Gore. Também foi a primeira a fazer o campo de Clinton compreender que não venceria as primárias.

A pessoa responsável pela apuração politica dos variados programas da rede, como Hardball, com Chris Mathews, Countdown, com Keith Olbermann, Verdict, com Dan Abrams, Morning Joe, Race for the White House, e os demais segmentos politicos apresentados por outros veteranos do jornalismo e da política nacionais, como Pat Buchanan, Andrea Mitchell, Tom Brokaw e Mika Brzezinsky, foi ninguém menos do que Tim Russert.

Russert tinha 58 anos, originalmente advogado, iniciou sua carreira jornalistica como voluntário em campanhas políticas de senadores e assessor de imprensa do governador de NY Mario Cuomo, o que elevou sua capacidade de questionar adversários e aliados na busca de seu mais completo conhecimento. Destronou o candidato democrata Bill McBride ao governo da Flórida contra o republicano Jeb Bush por perguntar-lhe algo ao qual o democrata não respondeu integralmente. Seu método de entrevista no programa Meet the Press, da NBC, era o mais temido, respeitado, justo e equilibrado, fora do alcance da concorrência, à qual politicos e outros jornalistas em Washington eram especialmente preparados. Todos os convidados sabiam que as perguntas seriam sinceras, diretas e duras, mas sempre haveria todo o tempo do mundo para a resposta, que quanto mais completa, melhor satisfaria a curiosidade implacável do jornalista e executivo.

Para a revista Times, Russert foi uma das 100 personalidades mais influentes do planeta, mas para mim Russert passou a ser recentemente uma espécie de coluna dorsal invisível. Digo invisivel, porque eu apenas lia o resumo do Meet the Press, e pouco escrevi aqui a respeito de seus comentários, ou ao menos, atribuindo a informação à fonte política absoluta da NBC.

Porém, quando me pediram para melhor explicar a rivalidade entre democratas e republicanos, usei a analogia dos estados azuis (democratas) e vermelhos (republicanos), uma analogia que Russert inventou. Apesar de contar os delegados pela CNN, soube com Tim Russert primeiro que Hillary Clinton não alcançaria Barack Obama à nomeação. Com uma pequena lousa branca, Russert rabiscava estados e seus números e fazia o impossivelmente complicado parecer fácil. O rabisco mais importante do jornalismo contemporâneo é o que demonstrou a Tom Brokaw em 2000 quando explicava que apenas a Flórida faria a diferença na corrida entre Al Gore e George Bush. A lousa dizia: “Flórida, Flórida, Flórida.”

Além disso, e isso é além e sobreposto a qualquer outro aspecto de nossas vidas, Tim Russert era pai orgulhoso de Luke, e filho de Big Russ, relação que lhe rendeu dois livros dos mais vendidos nos últimos anos, o primeiro sobre seu relacionamento com Big Russ, e o segundo baseado nas milhares de cartas que recebeu dos leitores do best seller sobre os mais variados relacionamentos paternos. Nascido em Buffalo, NY, Russert era fanático pelo time regional de futebol americano, os Buffalo Bills, e sempre mencionava suas raízes quando apresentava o Meet the Press, bem quando comentava constantemente nas demais dezenas de programas da rede NBC e suas filiais. Era uma fonte inesgotável de conhecimento, e conversava de igual para igual com qualquer figura política da nação. Barack Obama cofundiu o nome de Matt Lauer, do Today Show, pelo nome de Tim Russert, de tanta preparação à entrevista no Meet the Press e a pressão que representava em sua campanha, antecedendo o encontro com Lauer em algumas semanas.

Às vésperas do dia dos pais nos Estados Unidos, Russert não sobreviveu para continuar fisicamente criando seu filho, seguir orgulhando seu pai e guiando os demais jornalistas, queimando a mentira da política na jornada às eleições presidenciais de 2008. Não há rival ou amigo que não concorde que, sem Russert, a cobertura das eleições não será a mesma. Keith Olbermann, o liberal radical, quetionou-se: “O que deixaremos de saber sem Russert aqui?” Pat Buchanan, ex postulante à presidência pelo partido republicano, disse algo como: “Quem viu, viu, quem nunca viu, não verá mais.”

Havia tempo que não sentia tanto pela perda de uma personalidade pública. Faz-me pensar e projetar o amor que sinto por meu próprio pai, que há dez anos faleceu de modo quase identico. Esse texto ao dia dos pais é dedicado a todos os que nos inspiram, nos ensinam, e nos guiam paternalmente pela escuridão da vasta noite criada às sombras do mundo cão. É dedicado a meu tio, e a todos os que me inspiraram a crescer intelectualmente, e a me interessar nos maiores quadros das situações mundiais. Esse texto é para Tim Russert. Que em paz descanse.

RF

3 comments:

Jens said...

"Russert rabiscava estados e seus números e fazia o impossivelmente complicado parecer fácil."
Não preciso saber mais nada; um cara que fazia o complicado parecer fácil só pode ter sido um dos grandes em uma profissão - o jornalismo - que tem como meta, justamente, decifrar para os homens comuns o que se esconde por baixo do politiquês e economês dos ativistas do ramo. Até agora não sabia quem era, mas, pelas tuas palavras, é evidente que merece nossas melhores homenagens. Que São Gutenberg o receba na Grande Redação Lá de Cima. Estará em boa companhia.
Um abraço.

Anonymous said...

Roy, vou tergiversar. Acho que vc estabeleceu um objetivo pro blog e tem seguido de forma competente (eu realmente acho que vc tem uma argumentação interessante). Um blog é a extenção da gente. E é assim que tem que ser.
Hoje vc diz estar saindo deste objetivo. Talvez porque tenha saído da análise fria dos fatos e aberto espaço para os sentimentos.
Pois eu achei que seu texto ficou muito mais rico, muito mais interessante, sabia? De certa forma, me parece mais humanizado.
Mas eu nem sei se minha opinião vale, pq o pouco que sei de personalidades americanas é mérito do seu blog. Mas ainda que eu esteja falando um monte de besteiras, hj gostei mais de te ler, tá? rs...
Beijocas

Anonymous said...

"Sobrinho", tem texto teu lá n'O Lobo.
no mais, clap, clap, clap!
baita abraço meu