Thursday, June 19, 2008

E os perdedores são:

A grande mídia atinge a massa com meias idéias superficiais, mas quando acontecimentos podem e são reverberados pela rede eletrônica em minutos, a discussão é levada às comunidades virtuais e aprofundada, explorada, analisada até a exaustão pelos fanáticos de cada partido, e os assíduos independentes intelectuais (ou sem intelecto) da nação.


Barack Obama 0 x 3 John McCain

Barack Obama teve algumas falhas consideráveis nesses últimos dias, cujas repercussões seriam ignoradas pela maioria caso não estivessemos em tempos blogais.

Duas gafes políticas atingirão parte de sua base e serão usadas até Novembro, certamente, apesar de relativamente insignificantes. Particularmente, todavia, penso-as das mais importantes.

Mulheres usando xales islâmicos foram barradas e proibídas de sentar atrás do candidato em um de seus discursos em Michigan. Para que não fizessem parte da filmagem e fotos do evento, voluntários da campanha de Obama agiram rápido, e excluiram dois grupos do movimento de um candidato que se propõe a agir diferentemente: mulheres e muçulmanos. O motivo todos podemos calcular, afinal, uma porcentagem descomunal ainda acredita que Obama seja muçulmano (na casa dos 15-20%), e a campanha do democrata não deseja associá-lo aos mesmos ainda mais, ou outorgar munição ao advsersário. Há dez anos atrás poucos discutiriam essa história, mas a matéria originalmente publicada no The Washington Post ecoou até chegar à grande mídia aos fragmentos, e às comunidades virtuais em minúcias.

Além disso, discursando entre judeus no estado da Flórida, Barack Obama mostrou-se favorável a Israel e duro com o movimento palestino. Quem ali esteve, ouviu um candidato moderado procurando expandir sua base à comunidade judaica. O único problema é que Obama sempre se disse neutro e bom observador do conflito médio-oriental. Favorecer a comunidade judaica não ressoa bem comparado à sua atitude supostamente mediadora. Mais um ponto perdido com a comunidade muçulmana, ironias políticas cabíveis apenas em nosso mundo surreal.

Porém, a maior de suas gafes é a corrente acusação de que Obama esteja convencendo diplomatas Iraquianos que, quando promete a retirada das tropas dos Estados Unidos do Iraque em 16 meses, não faz uma promessa literal. Confrontado no programa Morning Joe, o analista político da MSNBC, Harold Ford Jr., ex congressista democrata, tentou explicar o movimento de Obama como responsável e calculado. Se ele prometeu a retirada em 16 meses, apenas o fez caso as circunstâncias permitissem. Porém, como bem argumentou Pat Buchanan, ex postulante à presidência pelo partido republicano e comentarista frequente do programa, tal posição seria aceitável até mesmo pelos padrões republicanos, já que um compromisso aberto à falida guerra iniciada e declarada vencida em 2003 é exatamente o que George Bush propõe, e McCain concorda.

De fato, Obama não pode prometer uma retirada em 16 meses, mas dizer a diplomatas iraquianos: “É de mentirinha, gente.” Em realidade, Obama não pode prometer uma retirada em 16 ou 26 meses, e ponto final.



John McCain 3 x 1 Barack Obama


No placar acima seriam dois para o candidato democrata caso o assunto fosse menos politicamente complicado. Aliás, complicado apenas porque, apesar da era de reverberações virtuais, a população não está majoritariamente armada do conhecimento suficiente para encarar as maiores polêmicas.

Há quase três décadas, o governo instalou uma proibição explicitamente apoiada por representantes políticos e seus campos populares contra a escavação por petróleo nos mares que circundam as costas do país.


John McCain recentemente anunciou seu apoio ao término da proibição igualando-se a George Bush, igualmente requerindo a atitude do congresso e senado, ao menos deixando a critério estadual o interesse por suas próprias costas marítmas. Sua posição em 2000, quando concorreu à nomeação de seu partido contra o atual presidente, era contrária. Essa era a distinção mais acentuada de McCain até o início dessa semana, sua preocupação com o meio ambiente. A preocupação parece ter ido ao ralo depois de rejeitar o financiamento de 2 bilhões de dólares à restauração do Everglades (pantanal) floridiano. Agora, posicionando-se contrario à proibição em tempos de paranóia pública com os altos preços da gasolina, alimentos, e a potencial escalada da inflação, apunhala sua distinção ambiental pelas costas pela segunda vez.

A Flórida, novamente central na disputa à Casa Branca, invadiu a polêmica por ter uma das maiores costas inexploradas, potencialmente abrigando reservas petrolíferas. Charlie Crist, governador do estado que até a semana passada seguia avidamente favorável à proibição, também mudou sua percepção. “Não posso ignorar os bolsos dos floridianos,” disse em entrevista ao The Miami Herald.

Mel Martinez, senador republicano pelo estado que endossou John McCain, juntou-se aos companheiros.

Porém, em tempos de altos preços nos combustíveis e alimentos, os Estados Unidos sofre um dilema complexo, especialmente no relmo político. De acordo com as pesquisas levantadas por institutos como o Departamento de Energia dos EUA, ou o Conselho Petrolífero da Flórida, os riscos ao meio ambiente são mínimos, e mesmo forças naturais dilacerantes como os furacões Katrina e Rita não danificaram as barragens de instalações petrolíferas o suficiente para causar danos significantes.


“Vistam-me devagar, porque tenho pressa.” Napoleão Bonaparte

Significante, porém, é um termo relativo, e organizações ambientais posicionam-se contra o candidato republicano. Antes fosse esse seu maior problema. Além dos ataques do Diretório Democrata Nacional, a base republicana favorável a atitudes seguras ao meio ambiente e obtenção de energia, à qual McCain fazia parte, distancia-se do candidato nesse tema. Os motivos são mais econômicos do que “verdes”,
e nos fazem questionar se em tempos de desespero as melhores alternativas são atitudes desesperadas.

Primeiro, porque os resultados podem ser vistos apenas em uma década ou mais, e o benefício prometido é imediato, doce ilusão. Analistas dizem que a atitude pode favorecer a economia nacional no futuro, mas, novamente, essa não é a melhor promessa energética, que compete com a instalação de uzinas nucleares e a propagação de combustíveis alternativos. Depois, os custos podem ser mais altos do que os benefícios, tanto em tempo quanto em potencial quantidade de reservas, e a demanda crescente da China e da Índia causará uma fome competitiva no mercado que não pode ser saciada com centavos.

Ao fim, eleitores decidirão o rumo da nação, mas as diferenças entre os candidatos parecem desaparecer ao longo do tempo, ao menos a curto prazo, mais do que se destacam.

RF

2 comments:

Jens said...

Ok, acompanhando. Câmbio, desligo.

Anonymous said...

mas eu queria saber o que vc acha: vai dar obama? tem que dar,né?
bj
ps. voltei lá n RC, pra me sentir reativa...rs...eu gosto de lá um tantão