Wednesday, June 27, 2007

O Segredo de Minha Irmã

O fato é que Janaína conhecera uma figura, certo dia de sua distante juventude, e a ela me apresentou, ou a ele. Uma figura interessante. Uma pessoa que me ensinara, de modo que preferi não detalhar nas páginas passadas deste relato, e que nem agora vem ao caso, tudo o que eu pensei poder fazer ao lado de meu exército de marginais. Então era seu filho... Amigo de Janaína? Companheiro de minha irmã? Lá fora, ouvía-se a aproximação da passeata dos infernos. Gonzalo invadia, armado e de homens e mulheres armados a pau, pedra e fogo, a fazenda de Jurandir. Não tive muito tempo para pensar.

Décima-Oitava Parte

“O que aconteceu com ele?”

“O que aconteceu com ele? Rapaz, você de nada sabe. Você de nada sabe, não disse? Pois, fugiu. Sumiu.Rejeitou-me como pai, rechaçou-me, citou-te como glorioso e salvador, aos delírios, e não de hoje. Abandonou meu sítio. Abandonou a minha vida. Disse que se juntaria ao teu exército de cães sarnentos, e nunca mais o vi, isso já faz mais de um mês.

Ora, eu, como pai, sei o que é perder um filho desmerecidamente. Não farei isso com sua mãe, mesmo que você, como filho, seja desmerecido. Mas, aviso, e olhe bem, se você pisar naquela casa outra vez, se você apenas se aproximar daquele terreno que antes te acolhia, eu mando assassinar a todos vocês, a que se faça maior exemplo.

Agora sáia logo e peça a esse bando de selvagens que se acalmem. A guerra acabou, eu declaro, mas eles não estão pra me ouvir graças aos seus jeitos. Ouvirão você. Têm de ouvir.”

Ainda tive tempo, entre os ecos caóticos que se aproximavam a passo marchado, de pensar no que me dizia. Negociei, recolhido, contido e ainda alheio à desgraça:

“Pelo sumiço do seu filho eu não me responsabilizo. Se ele viu que podia, ele viu bem antes de mim. Não teria me alcançado ainda no passado, caso contrário. Então vem cá e me faz o seguinte. Eu não tenho controle sobre esse povo. Gonzalo talvez tenha, mas esse povo nasceu pro descontrole. Posso pedir a ele prá não tocar seu terreno. Nada mais. Se ele não puder, eu que não tenho comando. Mas digo uma coisa, Jurandir. Eu sumo. Você também some. Não quero caso nem causo, e você sabe muito bem que eu tenho meus olhos e meus ouvidos na cidade.”

“Sei... Ratos e baratas, vocês... Está bem. Adiante, então! Vá falar com Gonzalo. Mas lembre-se. Podendo ou não, se alguma coisa acontecer comigo ou com meu irmão, ou com qualquer um que carregue o meu sangue, eu mato você e sua família. Juro.” Disse assertivo.

“Jura? Jura não. Prepare um papel.”

“Papel?” Fitou-me estarrecido o coronél.

“Papel. Um documento dizendo isso, essas suas palavras. Um contrato selado entre homens.”

“Está certo...” Cedia o porco, “Está certo... Mas depressa, que eles estão chegando!”

E chegaram. Gonzalo com seu bastão, homens e mulheres sem sentido, motivados pela sutileza cerebral de meu companheiro, mas todos às beiras de ataques de nervos. Corri em direção ao tumultuo, e recebi as boas vindas do povo desajeitado, os feitos marginais de Santa Maria. Mal tive tempo de explicar a que vinha. Ouvia o murmúrio, “é verdade que ele morreu?” “Quem morreu?” “João dos Rosários.” “Quem matou?” “Foi Jurandir.” “Matou quem não morreu, era ele ou o outro!” “Morreu foi ele, agora pegamos o outro.” “Morreu quem?”

1 comment:

Jens said...

Juntei as bolas no comentário do post aí de cima.
O tempo sombrio e de guerra, de revelações e vingança é aqui.