Monday, June 25, 2007

O Segredo de Minha Irmã

“Não, rapaz. Aqui não tem exército, eu me basto. Bastei-me até hoje. Mas eu não quero a tua morte. Não agora, pelo menos. Você me é útil. Muito útil. E será se quiser ver sua mãe e sua irmã bem.”

Décima-Sétima Parte

“Do que é que você está falando?”

“Do homem que executou o seu comparsa, esse dos Rosários, procurado pela lei pela morte de sete almas inocentes...”

“Sete almas inocentes o meu cu, Jurandir. João se desfez de sete bandidos comandados, amigo, que eu sei. Sei de todas as mortes, ele me contou.”

“Contou mesmo? Isso não importa. Quem fez ele está em casa de tua mãe. Se eu não aparecer por lá até as cinco, fogo nela, fogo em tua irmã, fogo na casa e em quem mais estiver nela... João contou de quem seus mortos eram pais? De quem eles eram filhos? Contou que eles estavam fazendo apenas o dever deles, que ele, por seus motivos egoístas, deu-se a macho com quem pôde e matou a sangue frio em nome de ninguém que não mais ele?” Jurandir quase se encostava em minha face. Paráva-se impávido, encarando-me, nunca antes tão próximo. Sentia seu hálito malcheiroso, e eu valia-me internamente para não vomitar. Mas, respondi, quase indiferente à notícia do perigo à vida das mulheres de minha vida, como se a cada instante ao lado da besta, perdesse cada vez mais o medo que sentia de sua presença e poder:

“Pais e filhos, agora você se importa com pais e filhos. Está certo. O que você quer de mim pra deixar a mãe em paz? Já disse que não quer a minha vida. Já disse que não é o meu sangue,” nesse instante, fitei seus olhos com furôr desmedido, e dei um passo sobre os miolos estourados do falecido João, “ então quer o quê?”

“Sua distância. Sua cooperação.” Jurandir respondia inabalado. “Sua participação em acalmar o povoado histérico que vocês criaram. Mais crime, maiores mazelas, mais repressão, é isso que você quer? Pois, é isso que você terá, ainda órfão e sozinho nessa vida, rapaz. Não te percas em desilusões puerís. Não sou pudico quanto a vida de quem não a preza, a escolha é sua. Foda-se esse povoado de merda. Que se danem se precisam, se não precisam. Você tirou de mim o que eu mais amava. O que eu mais queria e resgüardava. Você fez meu filho acreditar nos seus sonhos. Você comprou os seus sonhos.”

“Você não tá fazendo o menor sentido, Jurandir. O que quer de mim, caramba? De que filho você fala?”

“Você sabe muito bem. Quem lhe ensinou a ler?”

“Minha professora, porra, quem me ensinou a ler? Janaína me ensinou a ler também, o que isso tem a ver?” Exaltei-me.

“Então não se lembra de Olavo, meu filho? Não se lembra do que ele lhe ensinou? Dos livros que lhe deu? Das notas que lhe anotou? Agora você se esquece...”

O fato é que Janaína conhecera uma figura, certo dia de sua distante juventude, e a ela me apresentou, ou a ele. Uma figura interessante. Uma pessoa que me ensinara, de modo que preferi não detalhar nas páginas passadas deste relato, e que nem agora vem ao caso, tudo o que eu pensei poder fazer ao lado de meu exército de marginais. Então era seu filho... Amigo de Janaína? Companheiro de minha irmã? Lá fora, ouvía-se a aproximação da passeata dos infernos. Gonzalo invadia, armado e de homens e mulheres armados a pau, pedra e fogo, a fazenda de Jurandir. Não tive muito tempo para pensar.

4 comments:

Anonymous said...

caraí

vc sumiu mesmo?

o que houve?

mande notícias
sinais de fumaça

beijocas

Patrick Gleber said...

Mudando um pouco de assunto... Escrevi hoje no meu blog sobre o tema: SENADORES SEM VOTO. Leia minha opinião e dê a sua também. Aguardo.

www.blogdopatrick.br21.com

Jens said...

Putz. Tá ficando cada vez mais legal.

Roy Frenkiel said...

Morri nao, Pri, to vivo, to vivo, volto a batente hoje :-)

bjx

Roy