Em clima de Copa, pela primeira vez na história de minha vida consciente, não compartilho as sensações da mesma. O que jamais significará que não amo futebol, ou que não sou fã, quase incondicional, da Canarinho. É tão pouco o que me entretém que não abrirei mão pelo mal-humor de uns tantos de meus amigos e colegas.
Recentemente encontrei uma postagem no feicibuki (como se diz aqui, em clima de brasileirês) politizando a Copa. Dilma, Serra, ódios, temores, vampiros e fantasmas. Se a Canarinho vencer isso, se a Canarinho vencer aquilo. A postagem era de um religioso que, claro, só vê santidade onde ela nunca existiu, não sabendo diferenciar entre o lúdico e a fantasia. Ah, váfá, disse eu e repito. Deixe-me escolher a melhor masturbação e encha o saco de outras pessoas com sua liberdade de expressão, disse eu, mas isso não repito, invocando os sábios gringos que sabiam, antigamente (bem antigamente) o valor dessa tal liberdade.
O impressionante é constatar que a população brasileira está mais patriota, o que acho extremamente positivo levando em consideração algumas melhoras claras que encontrei nas duas últimas vezes que visitei o país. Não só pela Copa, mas parece que o Brasil veste-se cada vez mais de verde-e-amarelo. Convenhamos, cores nada feias e valiosas para quem quer estar do outro lado da balança dos Estados Unidos.
Ainda assim, a caminho do bar a assistir a partida entre Brasil e Coreia do Norte, assistia também um ou dois acidentes a cada quilômetro. Adoro! Chamo de blém-blém-blém. Até me disseram que talvez eu não devesse morar aqui mesmo, aquele negócio de quase “ame-o ou deixe-o”, mas nesse caso tem razão quem recomendou. Apesar de morar em um país que ainda deve destruir o mundo através do grande capital (a exemplo da British Petroleum), aqui a auto-destruição me assusta muito mais. Não adianta, pressa para assistir um jogo de futebol? Ah, váfá, disse e repito.
À frente de minha mesa, a senhora maltratava o garçom segurando uma criança e eu já pensava na excelente educação brasileira. Pelo menos onde moro ninguém fala com ninguém. Aqui para falar “nojenteiam”, ah, váfá, disse eu e repito. O senhor de pouco mais de média idade ouvia o jogo pela rádio e adiantava comemorações. Meus vizinhos de mesa atiravam-lhe guardanapos e tampinhas de cerveja, dizendo que “se fosse jogo do Cruzeiro eu matava”, lindo de se ouvir. Já o tiozinho com a péssima educação que sua mamãe e papai lhe deram ainda teve a cara de pau de me avisar, pessoalmente, quando a Coreia do Norte marcou o gol. Isso, é claro, porque lhe tinha pedido encarecidamente que não estragasse minha surpresa. Ah, váfá, disse eu e repito.
Na Coreia do Norte devem ter transmitido o jogo (que foi ao ar ao vivo quase 24 horas depois de ocorrer) com as edições correspondentes. Como é lindo o tal de “socialismo” coreano. Nem em Myanmar as vias de comunicação são tão fechadas. O ex companheiro de Bussunda, Marcelo Madureira, em seu quase brilhante “Pacato Cidadão”, apresentava as bandeiras com as quais a Coreia do Norte mantém relações diplomáticas, todas norte-coreanas. O mundo é mesmo lindo... Ah, váfá, disse eu e repito.
Em clima de copa e férias, depois de ter passado sustos nos Estados Unidos que jamais pensei ter de passar por lá (arrombaram a janela de meu quarto duas semanas antes de minha viagem e roubaram minha vida materialista inteira, o que me deixaria muito feliz se ainda tivesse fé nas tolices espirituais, mas ainda sou da linha de Thomas Hobbes), passo um pouco de frio na bela Belo Horizonte e ando meio de saco cheio. Claro, meu bolão pela Copa já deve ter ido pro saco com as apostas de hoje. Mas esse caminhar pesado não é contra o Brasil. É só meio contra o mundo todo, sabem, coisa de gente madura.
Pois vou-me então. Vou-mefá, esperando que o clima melhore, que tudo melhore, que eu melhore a passos mais acelerados do que o Brasil, que sequestrou o mundo virtual com seu Cala a Boca Galvão no Twitter. A genialidade humana não tem limites. Ou seria o contrário? Sei lá, vou-mefá.
RF
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